Opinião

O que esperar do próximo presidente sobre o mercado de trabalho no Brasil?

Por José Eduardo Gibello Pastore
Advogado, consultor de relações trabalhistas e sócio do Pastore Advogados

Temos dois candidatos à Presidência da República e uma expectativa grande em torno da postura do próximo governante em relação ao mercado de trabalho. Independentemente de quem será eleito, o certo é que ele terá de participar do jogo da democracia no âmbito das relações do trabalho e precisará de muita habilidade na interlocução com o novo Congresso Nacional.

Caso Jair Bolsonaro (PL) seja reeleito, a tendência é que o ritmo das mudanças no campo trabalhista seja mantido por meio de decretos, portarias, medidas provisórias e projetos de lei. Assim tem sido nos últimos quatro anos, em que se destacam como positivas a atualização e a simplificação de algumas normas trabalhistas que eram essenciais para a segurança jurídica das empresas. Quando há essa proteção, há investimentos e, por consequência, mais empregos. O aspecto negativo é que houve muita instabilidade justamente por conta das constantes mudanças, algo que não deixa de ser esperado.

Caso Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vença, o mesmo cenário de muitas propostas legislativas, decretos e portarias para alterar regras no campo trabalhista tende a ocorrer, mas com uma diferença: a questão da contribuição de trabalhadores a sindicatos.

No governo Bolsonaro não houve a reforma sindical desejada por muitos sindicatos. A Lei 13.467/17 determinou que tanto entidades que representam empregados quanto empregadores podem ser financiadas pelos trabalhadores da respectiva categoria, desde que manifestem expressamente que desejam contribuir para esses sindicatos. No atual governo, a regra não mudou e não se propôs custear sindicatos de outra forma, até porque haveria que se alterar a Constituição Federal, o que é mais difícil de fazer.

Em um possível governo Lula, a reforma sindical será discutida porque as entidades que representam empregados também foram duramente atingidas pela Lei 13.467/17, que retirou a obrigatoriedade de se descontar um dia de salário de cada trabalhador para financiar o sindicato. A partir de 2017, a sobrevivência passou a depender de contribuições espontâneas. Se Lula for eleito e escolher esse caminho, será difícil explicar ao trabalhador que será descontado um dia do seu salário para custear o sindicato que o representa.

Em um governo Lula, teremos, portanto, forte pressão sobre o direito coletivo do trabalho, em especial o direito sindical. Mas não podemos nos esquecer de que as questões trabalhistas estão também profundamente relacionadas a propostas que vêm do Poder Legislativo. O perfil dos parlamentares mudou muito neste ano e teremos de aguardar para entender a construção de grupos e forças no Congresso.

Ou seja, teremos muitas emoções nestes próximos quatro anos no âmbito trabalhista. Independentemente de quem seja eleito, uma coisa é certa: o tema central para o novo governo será a economia e o emprego, e nesta seara não se admitem aventuras políticas de quem quer que seja.


Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

O racismo que está no cotidiano

Próximo

Debates: sempre necessários

Deixe seu comentário